quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Luciano Huck e o senso estético em “Lata Velha”


Vez por outra vejo o programa do caldeirão do Huck aos sábados e sempre me pergunto se aqueles caras que ganham os carros consertados tem cara de andar com aquilo na rua.
O sujeito tem um Opala 76 cheio de plastic, enferrujado, banco quebrado, sujeira dentro, motor acabadaço, sem vidro traseiro e só funciona empurrando. O Luciano Huck faz o cara pagar um mico (até aí tudo bem) e entrega o carro reformado. Novinho em folha, motor novo, limpinho, com vidro, pintura nova, pneus novos , vidro fumê, bancos de couro.. MAS (como tudo sempre tem um MAS) o carro vem com som escandaloso, pintado de amarelo canário e verde-limão com labaredas de fogo desenhada no capô, roda de liga leve rebaixadas e luz azul no fundo do carro, farol de milha em cima, do lado e embaixo do carro, bancos de cores diferentes (azul, rosa, lilás e verde limão), alavanca de siri, tapete de bolinhas para o banco do motorista, DVD interno que pisca dezenas de luzes com tela retrátil, vidros laterais com luzes coloridas, luz internas cores lilás, rosa e estroboscópica, adesivos escrito Barretão 2011 - eu vou e A força do meu sucesso é a velocidade da sua inveja ou Não me inveje, trabalhe.
Percebi que, no momento da entrega do carro, um velhinho chorava compulsivamente depois de ter dançando Conga, Conga, Conga vestido de Fred Mercury no palco caldeirão. Era um velhinho pipoqueiro que morava em Nova Iguaçu que não usava o carro por falta de condições e que agora dificilmente poderia usar o carro...
Dessa vez, por falta de condições mesmo.

P.S.: Ao que se sabe o velhinho nunca mais saiu de casa. A Globo não divulgou que teria sido uma súbita crise de pânico que o acometeu. Afinal, pânico é da rede TV e não da Globo.

sábado, 8 de outubro de 2011

O desafio de produzir conteúdo em um blogue


Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego do claustro, na paciência e no sossego. Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Diria Olavo Bilac sobre o ato de escrever numa época em que escrever era realmente um ato solitário, muitas vezes, penoso pelas convenções e penoso como a atividade de um operário que trabalha, teima, lima, sofre, sua.... Esse é o desafio lançado a quem optou por ter um blogue e produzir conteúdo para ele, trocar ideia e sobretudo, no meu caso, sem expectativa de retorno algum. Não vivo, nem pretendo viver disso.
O saco de filó surgiu em 2007 e este ano faz 4 anos de existência em um mundo, a blogosfera, onde não se tem muito por prática ler ou mesmo produzir conteúdos. O que se vê o efeito chupa cabra. Um blogueiro chupa uma reportagem de um site de notícias e mais 20 fazem o mesmo sem mexer em quase nada, nem atribuir ao texto algum tipo de originalidade. Um blogueiro acha algo em um outro blogue e replica ad infinitum. Em razão disso, vemos as mesmas coisas que, poucas vezes, se dão o trabalho de serem replicadas com palavras diferentes.
Produzir conteúdo é um desafio. Requer saber ler, refletir e escrever de forma mais sintética possível sobre algo. Em uma postagem minha há tempos atrás disse que não faço questão de visita, mas sim, de leitores. 10 leitores valem mais do que 1000 visitas para quem não quer monetizar o blogue. Trocar ideias com quem vale a pena trocá-las é uma honra. Esse foi o desafio do saco de filó, numa blogosfera que vale mais o "me segue que eu te sigo", "me visita que eu te visito"...
No saco de filó contínuo longe do estéril turbilhão da rua...

P.S.: De uns tempos para cá surgiu, em algumas comunidades de blogue (como no Dihitt), o famoso "me acaricia que eu te acaricio também", uma série de postagem de louvor aos colegas que têm blogues esperando, obviamente, a recíproca da ação e o voto que promove notícias. Isso é uma maneira de substituir os tão escrotos selos que deram um tempo por aqui... (esse blogue é mara, esse blogue tem qualidade, esse blogue é..argh!)... E ainda tinha regras de uso do selo que o amiguinho recebia! CARACA!! Que descansem em paz os selos.... nos quintos dos infernos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

DNA maldito de uma cidade sem futuro


Cidades assim como pessoas possuem um DNA que, embora não determine com rigidez o que elas serão no futuro, aponta algumas variáveis possíveis de realização. Falo isso porque já viajei quase todo o Brasil e nunca vi alguma localidade conseguir se desviar muito de sua história passada. 
Por exemplo, cidades que se estruturaram sobre riqueza fácil como garimpo se tornaram o reduto da indolência da ineficiência e do desmando característico de terras onde o dinheiro se chuta em cada esquina numa pepita de ouro. Mesmo passado anos e anos, a herança maldita persiste no atraso local. Outra herança desgraçada é a história de escravidão. Cidades que nasceram sob o regime escravagista e ergueram sua riqueza sobre o sangue da exploração dos negros amargam um quadro triste de atraso ainda hoje.
O problema é a mentalidade que se instala e se perpetua geração após geração, a ideia do trabalho como pena, a ideia da exploração com algo legítimo, a ideia do favor que os”coronéis” fazem quando permitem que alguém lhes preste um serviço. Cria-se uma elite indolente e inútil que só é capaz de valorizar a subserviência e a vassalagem dos funcionários, pois toda competência é vista como uma ameaça á ordem estabelecida. Valor tem o que delata, o que mal diz, o que frauda e ludibria, o que trama contra todos em favor do seu senhor, o que vende sua alma e sua dignidade em nome da servidão eterna. Aquele que possui formação, competência e capacidade de questionar é a grande ameaça ao sistema e deve ser banido. Ele representa tudo que não faz o perfil daquele lugar, deve ser banido, tudo que não rasteja aos pés do senhor, é inimigo seu e deve ser afastado...
Difícil de entender, né? Pior do que entender é viver em lugar assim onde o rei está nu enquanto todos admiram sua bela roupa.
Tende piedade de nós!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Agências de notícias do mundo todo divulgam: Walt Disney não morreu


Uma das lendas urbanas mais famosas é a de que Walt Disney teria sido congelado (criogenia) para que, no futuro, pudessem ser aplicadas a ele as novas técnicas para se curar um cancêr no pulmão. Tudo isso parece que começou com um boato em uma revista francesa que se espalhou pelo mundo. Em 1972, 6 anos após a morte do criador de Mickey Mouse, as suas filhas vieram à público para dar um basta nessa palhaçada toda. Embora, ainda hoje, haja muita gente que acredite que ele está congelado em alguma base secreta americana. Mas enfim, existe gente que acredita que o homem não foi à lua, que os atentados do WTC foram obra do próprio governo americano, que Elvis não morreu, que Michael Jackson também não morreu e outras teorias da conspirações que alimentam os cérebros desprovidos de coisas mais interessantes para pensar.
O fato é que meu filho descobriu Walt Disney e sua turma há poucas semanas e, em meio a Max Steel, Backyardigans, Dinotrem, Octonoautas e outras coisas modernas, ele tem dedicado um bom tempo para assistir às classicas e antigas “aventuras de Mickey e Donald”. Sim, aqueles desenhos antigos com cores meio desbotadas que povoaram à infância de muita gente do século passado, como eu. 
Foi assim que, outro dia, peguei-me dando gargalhadas com meu pequeno Daniel (3 anos e meio) assistindo a um clássico episódio em que o Pateta compra um barco e vai praticar esqui aquático com seu filho. Ríamos às gargalhadas, separados por mais de 3 décadas e meia de vida e unidos por um prazer de pai e filho ao se divertirem juntos.
Senti naquele momento que, realmente, Walt Disney não morreu e dará outras provas inquestionáveis disso quando, um dia, meu filho se deitar com o meu neto em uma colchonete espalhada no chão e der risadas gostosas das aventuras de Donald e sua voz de taquara rachada, do pateta e de suas trapalhadas...
E quem disse que Walt Disney precisou de ser congelado para não morrer? Quem disse?

sábado, 24 de setembro de 2011

Por uma questão de lógica, negros e mulheres são seres superiores a brancos e homens?


Há uma falha grotesca de raciocínio daqueles que defendem causas com paixão que lhes excede a lógica. Aprendi nas aulas de filosofia que “todo homem é mortal” (premissa maior), Sócrates é um homem (premissa menor), logo, Sócrates é mortal (conclusão). Isso é lógica.
Entretanto, quando um homem negro (ou uma mulher) ascende ao poder, como foi o caso de Barack Obama (e de Dilma Roussef), grupos étnicos e sexistas comemoram com ardor e louvores de que agora vai ser diferente. Afinal, temos um negro (ou uma mulher) no poder! 
Ora, se todos os homens são iguais, conforme apregoam esses grupos, logo um negro (ou uma mulher) é igual a todos os outros, logo, fará o mesmo que os outros e estará exposto às mesmas fraquezas que os outros brancos que lá estiveram. A história mostra exatamente isso: todos os homens são iguais mesmos em virtudes e defeitos que, felizmente, não escolhem cor de pele ou gênero. 
Se partimos do fato de que um negro ou uma mulher no poder será melhor do que um branco ou um homem, temos a negação da igualdade por pressupor a superioridade de um sobre o outro. Na verdade, o mesmo preconceito de cor ou gênero só que legitimado por outra parte. Ou seja, preconceito é bom quando não somos o objeto deste, ou quando a história nos legitima um direito de resgate ou mesmo vingança por injustiças praticadas algum dia.
Por uma questão de coerência e mesmo lógica, ou se sustenta um discurso racista e sexista ou se admite o mais razoável: seja um homem, uma mullher, um negro, um branco, um hetero ou um homossexual, todos são pessoas exatamente iguais e sujeitos às mesmas vilezas e nobrezas de todos os seres humanos. Somos uma casca que recebe rótulos. Por dentro, a matéria de que somos feitos é a mesma. Não deixe que os olhos o enganem, eles são traidores e entorpecem a razão.   

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Eu adoro as pessoas ruins


Adoro os incompetentes, os canalhas, os mentirosos, os ardilosos, os puxa-sacos e toda espécie de ser humano vil. Longe de serem nocivos, eles funcionam como aquelas doenças que nos tornam mais fortes a tudo.
Trabalhar com um sujeito mau caráter é a certeza de aprender a lidar com seres humanos de toda espécie e esperar tudo deles, mentira, inveja, armação, tramóia e tantas vilezas que só um canalha de verdade é capaz de fazer. É fantástica a maneira como ele o olha e diz que aprende muito com você, que você signfica muito para ele, mas, no fundo, ele o despreza com todo o ódio que se pode ter.
O ardiloso lhe deixa em estado de alerta constante, uma necessidade para a sobrevivência. Ele o ensina que confiança é coisa que nem nos seus dentes você deve ter, pois amigos mesmo assim, de tempos em tempos eles mordem você.
Enfim, essas figuras lúgubres e desprezadas pela história passam por nossas vidas para nos ensinar que o mundo não é feito de clone de Madre Teresa de Calcutá. Muito pelo contrário. Ele nos lembra que somos filhos da mais vil inveja e que só se obtém sucesso por vias torpes. Afinal, quem não rouba ou não herda, não sai da merda.. Ri-se e bafora um charuto imaginário. 
O mais torpe de caráter dos seres humanos sobrevive de pequenas tramóias, sutis mentiras e intrigas cotidianas até o fim de seus dias. E passa por nossa vida nos dando lições de sobrevivência... Ensinando que tudo podemos, basta ter uma fé que redima todos nossos pecados aos domingos.
Sim. Eles passam e nos dão parâmetro para o que nunca devemos nos tornar, essa é a maior de todas as lições, o que jamais devemos nos tornar.
Obrigado a todos os seres desprovidos de ética, moral e consciência que cruzaram meu caminho. Obrigado por me tornarem melhor, mas não menos vigilante.

sábado, 17 de setembro de 2011

Adelina fatalista e a socialização da desgraça

Adelina não poderia se definida como uma pessoa invejosa. Não. Não se tratava disso. Nem tão pouco seria bem classificada como uma pessoa egocêntrica. Muito pelo contrário. Entretanto, corroia-lhe o sentimento de socializar suas desgraças e pequenos infortúnios. Se uma forte dor de garganta lhe atingia, aceitava com resignação, mas a incomodava que aquele mal só estivesse atingindo a ela. E os outros?
Se ficava no trabalho até tarde, aceitava com paciência, mas retorcia-se de ódio quando via as pessoas saindo do prédios ao final do expediente. Enfim, era uma pessoa dada a socialização do infortúnio. Aceitava se lascar, contanto que todos se lascassem junto com ela. Entendia a desgraça como algo que poderia tocar a todos, inclusive a ela. Mas por que só ela? Aceitaria perder alguns dentes, contanto que o mundo fosse feito de banguelas.
Era a socialização da fatalidade. Disso, Adelina não abria mão. 
Num dia de chuva, esperava o ônibus para voltar para casa. Um carro descontrolado subiu a calçada e diante da inevitável iminência do atropelamento, olhou para os lados tentando ver se havia alguém que poderia puxar para ser atropelado com ela. Não havia ninguém e aqueles segundos gastos com isso deixaram-na na impossibilidade de tentar se safar.
O impacto foi fatal.
Sob sua lápide, um epitáfio que somente poucos souberam o real significado: Por que só eu?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Todo poder corrompe, entorpece e deforma a alma


Acho que o grande desafio da alma é expor-se ao pior e continuar sendo o mesmo. Dizem que, se queremos conhecer uma pessoa, devemos dar poder a ela. Nessas situações, o ser humano expõe o que ele tem de pior ou de melhor, varia muito de acordo com o que se tem dentro de si.
Nos últimos tempos, pude constatar quão verdadeira e imutável é essa afirmativa. Seja de origem humilde ou de berço de ouro, a sensação do poder corrompe os valores e entorpece a capacidade discernimento. Valores como amizade, respeito, honradez e palavra se desfazem como éter que evapora e sustenta-se pela alegação de que uma coisa é governar, outra é ser governado.
E, então, baseado numa ética amoral agem como se fossem deuses do Olimpo. Seres eternos sujeitos a paixões e ódios, desejosos de vingança e cheios de prazer pela punição que aplicam. Vivem o momento como se fosse a consagração do eterno. São reis de ocasião, mas esquecem que mesmos alguns reis de direito tiveram fim trágico. E, quando isso ocorre, refugiam-se no sentimento de como as pessoas foram ingratas depois de tudo que eles fizeram por elas. Mas, no fundo, esquecem que tudo o que fizeram foi para eles mesmos e nunca para os outros. Os outros são só um detalhe.
Para quê amigos, basta o poder? Para quê palavra, basta a minha palavra e ela a mim pertence? Altero-a quando bem entender. Para quê o momento se sou senhor do eterno?
Muitos dizem que têm consciência que são temporários nos cargos e funções, mas as ações não condizem com as palavras. O cérebro está entorpecido e distante da razão. Só interessam as estratégias de se perpetuar onde  se está a qualquer custo.
O que lhes passa despercebido é que da parte debaixo do despenhadeiro, as feras aguardam sua queda para, ao cair seu corpo, lacerem seus membros com ferocidade incomum.
Aí, lamentam como foram mal compreendidos.... como são ingratas as pessoas.
É.. as pessoas são ingratas algumas vezes.

sábado, 10 de setembro de 2011

O homem e o gato

Acordou e sentiu que algo estava diferente. Seu corpo estava coberto de pelos longos, seu nariz era agora meio achatado e os bigodes finos e compridos se espalhavam a partir de sua bochecha. Levou as mão em direção ao rosto e constatou que não tinha mãos, mas uma pata cinza e peluda. Parecia um pesadelo e naquele momento, se lançou em busca de um espelho. A pressa era tanta que nem percebera que corria de quatro enquanto um longo rabo em riste fazia sombra na parede. 
Olhou no espelho. Sim. Era um gato. Um gato da raça persa, gordo e peludo.. Por um momento ficou chocado com tudo, mas de súbito acomodava a sua condição. Afinal, poderia ter virado uma barata ou algo pior. Pensava, em sua lógica, agora de gato, haveria algo pior do que uma barata? Sim. Um rato, um ratão cinza de esgoto... já começava a pensar como um gato.
Procurou uma cama, deitou-se na parte contrária a cabeceira, mas não sem afofar o local, alongar as costas com o rabo espichado e se deitar como quem se enrosca em si mesmo. Segundos foram necessários para começar a ronronar levemente. O dia estava frio e o seus sonhos eram povoados de bolinhas de lã e sofás para afiar a unha.
Subitamente, sua esposa entrou no quarto e perguntou: 
- O que você está fazendo na cama deitado igual a um gato?
Levantou a cabeça, abriu somente um dos olhos e com a altivez dos gatos, voltou a ronronar.