sábado, 15 de novembro de 2008

O bom mau humor de cada dia.

Sou o tipo de público de teatro mais ranzinza que conheço. E olha que eu já fiz de tudo para melhorar. De uns anos para cá, com o advento do stand up comedy, acho que fiquei mais enjoado ainda. Nesse tipo de espetáculo, o ator tem que ser muito criativo e o humor é descartável... Ninguém agüenta ver duas vezes. Sinceramente, eu não sei como é que uma pessoa consegue achar graça em humorista que faz personagem de bêbado, conta piada de sogra e história de corno.

Estive em um show de humor certa vez e os três esquetes eram: um bêbado; acho deprimente e não sei como alguém consegue rir de um cara imitando alguém embriagado, falando confuso, caindo pelas beiradas e que, na minha concepção, é um doente grave. Soa-me mais ou menos como rir de alguém com câncer terminal. Não é má vontade minha não, mas está cada dia mais difícil ser educado nessas situações.

Depois, entra outro cara contando piadas de sogra. Bom, simplificando e encurtando a história. Sogra boa é sogra morta, sogra é bruxa, sogra tem que sofrer... Não tenho nada contra minha sogra, até que acho uma pessoa bem legal, mas sinto que se manifestar meu ponto de vista com um cara daquele, vou ser espancado. E pasmem, a piada mais nova é do tempo da antiga TV Tupi e ainda tem um filho da mãe na platéia que ri.

E, finalmente, as piadas de corno. As famosas listinhas de tipos de corno (Isso era para ser proibido por lei de tão gasto e repetitivo). O cara entrou, e, antes da primeira piada, perguntou: vocês conhecem um corno?

E, no silêncio de minha cabeça, pensei: corno eu não sei, mas um idiota que perdeu 10 reais e uma hora e dez minutos do seu tempo sentado aqui... esse eu conheço.

Muito prazer, Marcelo!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Da série ambiente de trabalho I: O doente conveniente... o coitadinho!

Adalberto tinha problemas sérios de saúde, embora ninguém nunca soubesse ao certo quais. No serviço, se o advertiam, logo, alguém chamava a atenção: Cuidado, ele tem problemas de coração! Se ele chegava atrasado, um olhar de repreensão era o máximo que recebia. Falar com ele? Nem pensar! Ele tinha problema de pressão sério mesmo. Na primeira promoção que aparecia na empresa, logo o indicavam ainda que sua competência estivesse muito aquém. Coitado! Tinha família para cuidar e ainda era doente, né!?

Se o trabalho que ele deveria fazer, e não fazia, acumulava, logo, uns colegas se apressavam em fazê-lo. Pobre coitado, tem problema de nervos, diziam. Na firma, durante uma crise, todos foram mandados embora, mas Adalberto ficou lá. Firme e forte,.. coitado... a esposa tinha problemas de saúde terríveis e ele ia de mal a pior a cada dia que passava.

Adalberto morreu aos 98 anos, saudável, dormindo...

No velório, alguns sussuravam:

- Vê só, foi Deus que o manteve vivo.. só Deus mesmo.

Adalberto sorria levemente no caixão como quem sentia um imenso alívio de uma gripe mal curada aos 10 anos e que virou um boato que lhe rendeu a vida toda de berço esplêndido.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

De paisagem, de Janelas e de culpados

Jonyedson tem 10 anos, mora numa favela na zona norte do Rio que é dominada, metade por traficantes, a outra metade por milicianos (nesse caso, um acordo de cavalheiros raro no ramo). Na escola dele, dois garotos, aviõezinhos do tráfico, foram executados porque tentaram passar a perna nos bandidos. Suspenderam as aulas no dia. Ordem do chefe da boca. Sua mãe, diarista, sustenta 6 filhos e, vez por outra, registra queixa na delegacia de proteção à mulher contra seu ex-marido que invade o barraco embriagado. Ele a espanca e toma-lhe os parcos trocados que recebe. Logo após, retira a queixa com medo de represálias de amigos do ex, todos ligados ao movimento no morro. Jonyedson assiste a tudo debaixo da cama para não apanhar também. Hoje de manhã, Jonyedson teve que esperar mais de 1 hora para sair de casa por causa de um tiroteio do pessoal da boca com os homens do BOPE. Na calçada, quando saiu, já estava aquela montoeira de sacos pretos cobrindo o que sobrou da ação.

Mas naquela manhã algo mudou. A mãe de Jonyedson foi chamada às pressas à escola. Por causa de uma discussão com um coleguinha de sala, seu filho empurrou uma cadeira e o menino caiu ralando o braço na altura do cotovelo.

O comportamento agressivo dele preocupou a orientadora pedagógica, psicopedagoga com formação também em sociologia, que pediu à mãe que cortasse os desenhos japoneses que passam na TV, pois eles são os principais responsáveis pela "explosão de violência" do garoto.

A mãe, então, passou a guardar a pequena TV em preto e branco do Paraguai adquirida em um camelô em cima do armário.

***

Quando fica em casa, Jonyedson passa as horas debruçado na janela vendo as pipas que sobem quando os PMs chegam.
Isso quando não tem tiroteio.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A pauta que saiu.... Agora é seguir.

Definitivamente, não agüento mais pautas do Jornal Hoje com o tema: a língua que o Brasil fala. Veja os sotaques e expressões de diversas regiões do Brasil. O locutor abre um sorriso e fala isso com ares de primeira vez. Tenho sensação de que quando desliga para o comercial ele diz: Pô, gente, de novo!
Aí, depois quando volta do comercial, entra o exemplo de um gaúcho falando “Bah, tchê”, um mineiro falando “Uai”, um baiano falando “meu rei” e eu falando: tá na hora de mudar de canal. Parei de contar em 134 vezes o número que essa reportagem no Jornal Hoje foi ao ar. Agora só mundo de canal e pronto.
Falta de criatividade total e absoluta.
Estraga meu almoço.

***

E tema do Globo Repórter:
[voz de locutor]
Você verá no Globo Repórter desta noite: a vida sexual das andorinhas amarelas do sul da Indonésia. Como se reproduzem, onde vivem (já disse que era na Indonésia. Tirou toda a surpresa), o que fazem durante as tardes, o que pensam (?)... No Globo Repórter, desta noite...


Sky ou dormir cedo, ler uma revista ou um livro, escrever ou comentar post...?
Você decide! (Vixe! Esse nem passa mais)

sábado, 8 de novembro de 2008

Tá ruim, mas tá bom... bom, bom, bom, não tá... mas tá bom.

Nasci em 71, um ano depois da copa do mundo que, na época ficou nossa, 12 anos depois, não mais era nossa, roubaram-na. E nem os 90 milhões em ação impediram que ela virasse um monte de ouro derretido vendido a algum receptador de produtos roubados. Lembro-me de poucas coisas do regime militar, vim aprender mais sobre isso com o Elio Gaspari em seus livros (o cara é genial... Recomendo). Só me lembro como gente alguns anos depois da Copa e das memórias que trago, uma me marcou de forma indelével. Dentro de casa, meus pais falavam coisas do tipo "governo ladrão", "político safado", "militares assassinos" e, numa das vezes que ouvi isso, um dos adultos por perto atentou para o fato de que uma criança os ouvia e reiterou:

- Ei, isso não é coisa que se fale na rua, não, viu!

Demorei uns 15 anos para entender exatamente por que aquilo não era coisa que se falasse na rua.

Hoje, menos freqüente do que anos atrás, ainda ouço gente que diz que bom era no tempo dos militares. Não havia essa roubalheira, não. Claro, eles (os militares) roubavam sozinhos. Não havia essa baixaria da imprensa. Óbvio, eles (os milicos) fechavam jornais e prendiam jornalilstas que ousavam discordar da ordem geral "Brasil, Ame-o ou deixe-o". E quem não amasse era forçado a deixá-lo. Quisesse ou não. Encalacramo-nos em dívidas que consumiram as riquezas nacionais durante duas décadas e, ainda assim, saímos no mesmo pé que entramos. No zero a zero...

Ao pessoal que chegou de 80 para cá, saiba que Papai Noel, coelhinho da páscoa, duendes e gnomos (não vale se lembrar da Xuxa, ela não serve como referência para nada), militares e juízes presos eram algo que girava na mesma esfera mítica e cairia bem em seriados como o antigo "Além da Imaginação" (acho que ainda passa na TV por assinatura). Ainda caminhamos para uma país melhor, estamos no iniciozinho da conversa, mas o nível da prosa já melhorou bastante.

E isso, agora, é coisa que se deve falar na rua.

Em tempo: Na época do regime militar, roubava-se, fraudava-se, violava-se direitos humanos muito mais do que agora, mas quem ousasse levantar essa discussão virava estatística. Conquistamos o direito de falar o que pensamos, daí, se seremos ouvidos, estamos falando de outra conquista em andamento.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Parece problema de matemática, mas não é.. de matemática! É social.

Um banco atende 100 pessoas por dia. O tempo médio de atendimento são preciosos 40 minutos. Em respeito ao cidadão , instituem o sistema de atendimento preferencial para gestantes, idosos (maiores de 60 anos) e portadores de deficiência que representam 10% de sua clientela. Os outros 90% dos clientes e não-clientes continuarão mofando nas filas.

Será que alguém mais além de mim, notou que o problema não é o cliente, mas o serviço oferecido pelo banco que é lastimável?

Em tempo:
Por favor, não sou contra atendimento preferencial de nenhuma natureza! O que não entendo muito bem é por que razão o direito à dignidade não deveria ser extensivo àqueles que não têm nenhuma deficiência, que não estão "grávidos" ou mesmo que, com 37 anos, como eu, precisam ainda de esperar 23 para serem respeitados.

Em um sistema eficiente, não seria necessário nenhum sistema de preferencialidade e ceder a vez a pessoas em alguma situações especiais deveria ser uma questão de bom senso, não de lei.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Música ambiente... que ambiente?


Sempre ouvi falar em música ambiente e imaginei que, às vezes, não há coisas mais complicadas de se harmonizar. Araketu e velório, Mozart e trio elétrico na Bahia, Bee Gees e desfile de escola de Samba, Techo dance e sala de parto.. e vai por aí. Dessa forma, aos poucos fui vendo que a música é a cara do lugar onde toca e dos ouvintes que o freqüentam, daí criei uma espécie de “feng shui” da música a fim de harmonizá-la aos seus ambientes.

Música
Bruno e Marroni
[ambiente]
Bar de beira de estrada, balcão, ovos coloridos numa estufa de vidro e carne boiando na gordura ao lado. Prateleiras com garrafas de pinga, conhaque e biscoitos amarelinhos que pegam fogo fácil (conhece?). Um cartaz de cerveja com uma mulher de shortinho e parte de cima do biquíni, com uma cerveja na mão. Caixa de chiclete Adams amarelinho numa vitrine ensebada.

Música
Araketu
[ambiente]
Um monte de gente suada, música alta para caramba, cerveja, cerveja, cerveja, muvuca na rua.. Voltam para casa... um dia.


Música
Capital inicial
[ambiente]
Show de exposição. Cerveja, muvuca para entrar, dificuldade para estacionar... Na platéia, um monte de trintão cantando as musicas com saudade dos tempos em que tinha 16 anos... (há uns vinte anos mais ou menos). Do outro lado, uns pós-teens que também curtem o som em clima de retrô do que não viram.


Música
MC Qualquer coisa
[ambiente]
Baile fechado, clube ao estilo quadra de futebol de salão. Palco armado onde ficava uma das traves. Galera A de um lado odiando a galera B que está do outro. Cerveja barata, música alta, no final, todo mundo de ônibus para casa... ou de chevette, corcel II, fusca.. a frota é vasta. Mas tudo "tunado"...

Música
Orquestra Los Tiozitos
[ambiente]
Salão de clube decadente. Música em altura razoável, começa cedo (logo depois do bingo) porque tem que acabar cedo (antes das 22). Homens de ternos e mulheres de vestido. Bebida com considerável moderação. O mais novinho aposentou como operário da pirâmide de Quéops. Por prudência deveria ter uma equipe médica de plantão do lado de fora. Ao fundo, Ray Connif rola solto... "Uma loucura, loucura, loucura..." como diria Luciano Huck.
Voltam para casa de van fretada.


Personagem, música e ambiente contam uma história e compõem um ambiente. Não acredita? Experimente colocar os vovozinhos num baile funk ou no show de axé.
Vai.. experimenta.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ainda bem que hoje é terça-feira...

Nunca gostei de domingo e já até escrevi um post sobre isso. Nada mais deprimente do que aquela musiquinha do fantástico e do Tadeu Schmidt apresentando o bola murcha e o bola cheia... Aquilo é o sinal de que os últimos suspiros de seu final de semana já chegaram.
Mas pensei que minha implicância com esse dia acabaria ali.
Não acabou.
Todo domingo, o Dr. Drauzio Varella vem para a telinha para me lembrar que eu nasci, cresci, estou perdendo a elasticidade da pele, meu metabolismo é menos eficiente, minha visão perde acuidade com o passar do tempo, meus neurônios estão morrendo, meus cabelos estão caindo e outras coisas vão cair também. Enfim, estou caminhando para realizar o sonho da cova própria. Tudo isso com imagens fantásticas de um documentário da BBC e que me deixa com uma baita orgulho:
- Olha lá, igual a mim.. tô morrendo assim ó... Igualzinho.

***
- Dr. Drauzio! Na boa, eu sei que estou ficando velho... pára com isso, por favor.

***
Quer saber o cúmulo do sadismo?
A série acabou domingo passado (2/11) e eu já tô com saudade. Muito legal, né?

sábado, 1 de novembro de 2008

Frases e frases.. e eu não entendi...

A minha grande implicância com ideologias políticas ou religiosas são as frases. Pois é, elas mesmas. As pessoas assumem uma ideologia ou aceitam uma religião e enchem o mundo de frases tiradas de seus livros doutrinários que, não sabem eles, fora de seu contexto, servem para tudo. Ou para nada, como queiram...

"...concentra na manhã e no fim de tarde"

A partir daí, encontraremos adesivos de carros, camisetas, campanhas que mobilizarão grupos em torno da frase. Se tornará uma palavra de ordem, retrato de toda uma maneira de ver o mundo, hino de uma só oração que será entoado e seguido por milhares de fiéis ideológicos ou religiosos. Pois, nas sagradas palavras, "concentra na manhã e no fim de tarde" é a única saída para aqueles que já estão descrentes de um mundo melhor.

Livros serão escritos, as palavras serão atribuídas a profetas ou a filósofos. A constestação da profética mensagem será vista como um crime contra o universo. Estudos serão feitos sobre o que está na entrelinha disso tudo. Divergências surgirão e os carros circularão com a frase estampada em seus vidros traseiros como um talismã que o qualifica como alguém altamente especial.

Até que eu lhe digo que o som profético dessas palavras foram tirados da VEJA Rio, 22 de outubro, página 43 em uma reportagem com Eduardo Paes, candidato a prefeitura do Rio, que dizia que sua agenda concentra atividades na manhã e no fim de tarde.

Mas as palavras são sagradas, muitos não irão crer que tamanha sabedoria tenha brotado em algo tão banal. Com certeza, o autor desse texto está blefando porque é um cético, descrente, infiel... Essas palavras foram retiradas, com certeza, de algum livro sagrado, encontrado escrito em sânscrito numa tumba de um profeta que acredita-se ser contemporâneo de Moisés.

"...concentra na manhã e no fim de tarde"
E conhecereis a verdade...

(com direito ao verbo flexionado na 2ª pessoa do plural... chique, né?)