Queridos alunos,
demorei uns 22 anos para escrever essa mensagem, mas seguem nas linhas abaixo as confissões de um professor, atualmente, com mais tempo de profissão do que muitos de vocês têm de vida.
Pois é, contra tudo e todos os fatos possíveis, na no final da década de 80, resolvi me tornar professor há mais de duas décadas. …, sim. … vocação mesmo. uma vez me perguntaram o que eu seria se não fosse professor, não consigo responder nada além do óbvio: eu seria frustrado.
Gosto de estar com vocês desde o primeiro dia em que entrei numa sala de aula. A primeira sensação que tive foi de "uau! Isso é bom demais".. E ainda me pagam para isso. Eis me aqui até hoje com a mesma sensação.
Hoje, confesso algumas coisas que vocês precisam ouvir de mim. Eu sou gente absolutamente normal, sofro, choro, tenho dias bons e dias maus, tenho lapsos de memória, enrolo, me engano, erro, fico cansado e sobretudo uso bermudas nas horas de lazer (uma vez, uma aluna de um curso de graduação ficou surpresa quando me viu de bermudas e camiseta na rua...rs Nossa, ele usa bermuda). Ah sim... e xingo palavrões quando assisto ao futebol na TV.
A minha grande luta é, e sempre foi, não deixar que os problemas que estão do lado de fora da sala de aula afetem o nosso trabalho. Tento sempre trazer um sorriso e bom humor para o dia de vocês que, muitas vezes, já estão há horas sentados ouvindo a gente falar. Eu sei que isso é cansativo. Acreditem, eu já fui aluno. Eu sei que levantar para ir ao banheiro, beber água e esticar as pernas durante uma aula é normal. Pois é.. mas aproveitem com moderação.
Eu entendo quando vocês estão cansados (alguns até cochilaram às vezes, apesar de minha voz alta) e fico indignado quando alguém que diz que os bons resultados de vocês não é mais obrigação. Só estudam!! (como assim "só estudam"?... estudam, praticam esporte, namoram, saem com os amigos, jogam vídeo game... enfim, vivem também) Não. Não é obrigação, é mérito e eu sempre vibrei e vibrarei com vocês.
Vocês não gostam de prova? Eu também não. Corrigir prova é chato para caramba e, muitas vezes, a gente fica adiando isso até o último momento. Igual a vocês quando se programam para estudar para a nossa prova. Viu como somos parecidos.
Vocês não gostam do momento de fazer a prova? Olha só que coincidência de novo, eu também detesto. Eu nunca sei (mesmo mais de 20 anos depois e um doutorado) se estou sendo bom o suficiente para avaliá-los. E, na correção, sempre leio diversas vezes a mesma questão para sentir que estou sendo o justo o bastante. Nunca me passou pela cabeça ser bonzinho, mas me assombra o medo de ser injusto. Não quero que vocês levem essa lembrança de mim.
Talvez vocês não saibam, mas professores podem ser definidos pela frase de Freud, "o desejo do homem é ser o desejo do outro". Queremos ser aceitos por vocês, queremos ser amados por vocês. O educador de verdade busca isso, pois quando rompemos essa barreira das relações humanas não há limites para as coisas que podemos fazer.
Todos somos passageiros nessa vida e, na vida de vocês, somos meros coadjuvantes que entram com hora marcada de sair. As estrelas são vocês e nossa grande vitória é quando vocês brilham, porque naquele brilho, sempre haverá um pouquinho de nós. Sim. Professores de coração são orgulhosos disso.
Por fim, sempre disse que a melhor coisa que deixamos para os nossos alunos não é necessariamente o conhecimento, o que deixamos de bom se chama saudade. Deixar saudade é deixar vontade de fazer de novo. E isso a gente só deseja com as pessoas que, de uma forma ou de outra, amamos. Lembra que eu lhes disse que professores, no fundo, querem ser amados... como todo mundo o quer.
Obrigado por todo carinho que recebi de vocês desde 1993 (quando me formei). Pelos meus cálculos, foram aproximadamente, uns 7 a 8 mil espíritos a quem me foi dada a bênção de fazer parte de suas histórias. Agradeço por isso todos os dias de minha vida. Agradeço por isso ter dado sentido a minha trajetória nessa passagem que chamamos vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário