quarta-feira, 1 de junho de 2011

Estamos prontos para amar o "imperfeito"?

Filhos são a maior lição de amor incondicional que a vida nos dá. A verdade é que ninguém quer filho doente mental, deficiente físico ou com um déficit intelectual, ou mesmo homossexual, ou feio... Enfim, trabalhamos com um padrão socialmente programado de filhos belos, inteligentes, perfeitos, heterossexuais e bem sucedidos na vida quando adulto se tornarem. Mas isso é um padrão, não uma realidade. 
O fato é que a vida nos dá filhos fora desse padrão exatamente para aprendermos que as limitações ou as diferenças são lições de amor. Amar o que é belo e perfeito é muito fácil, amar o amigo é muito fácil, difícil é amar o inimigo, é amar o feio, o imperfeito, o que margina ao padrão de ideal.
Mas a vida prega peças e nos ensino que se não estamos preparados para amar o que foge ao padrão, definitivamente, não estamos preparados para amar ninguém. Condicionamos a capacidade de se doar a um padrão preparado pela sociedade e que nos foi imposto desde tempos em que nem sabíamos o que era padrão ou sociedade.
Mas é assim. Digo isso, por que me choquei quando vi um juiz da infância dizendo na TV que o maior entrave para adoção são as exigências que as pessoas fazem e entre elas, chocou a de não quererem crianças negras ou que apresentem algum problema. Querem um "produto" perfeito, senão devolvem. Fico pensando... será que quem exigem tanto tem direito de adotar alguém? Acho que não.
Mais ou menos assim seguem as coisas com os filhos... Todos querem filhos biológicos perfeitos dentro de padrão de qualidade socialmente aceito desde o nascimento até sempre. Mas as coisas não são assim.

Eu sempre me pergunto, será que as pessoas estão preparadas para amar alguém?
Não sei, não sei mesmo.

3 comentários:

Eduardo Montanari disse...

"Vossos filhos não são vossos filhos.

São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.

Vêm através de vós, mas não de vós.

E, embora vivam convosco, a vós não pertencem.

Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,

Pois eles têm seus próprios pensamentos.

Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;

Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.

Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis faze-los como vós,

Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.

Vós sois o arco dos quais vossos filhos, quais setas vivas, são arremessados.

O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com Sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.

Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:

Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco, que permanece estável."

Gibran Khalil Gibran

sacodefilo disse...

Eu adoro este autor e, principalmente, este texto.
Valeu, Eduardo.

Jackie Freitas disse...

Olá Marcelo!
Ótimo o seu texto e realmente nos faz refletir profundamente sobre essa questão do amar... É muito fácil mesmo amar o "perfeito" dentro das concepções e convenções sociais, mas quando se sai dessa zona segura é que surgem os maiores desafios humanos e coloca em prova os verdadeiros motivos que nos levam a amar uns aos outros, aceitando os defeitos, as imperfeições e as diferenças. Bem, para mim já está mais do que provado que a humanidade ainda está fixada em padrões e resiste em sair deles. Lembro que uma vez, ao visitar um centro de adoções, vi crianças de todos os tipos e muitas delas ficavam aguardando ansiosas por "novos pais" que nunca chegavam. Elas se questionavam sobre o por que de não serem escolhidas... Conversando com a assistente social, ela me disse exatamente isso: muitas delas não estão no "padrão" das exigências e escolhas! Ora, se quem quer mesmo alguém para amar, ensinar e educar, por que faz escolhas? A adoção em si já é um ato belíssimo, mas creio que seria ainda melhor se as pessoas conseguissem provar a si mesmas que são capazes de amarem e fazerem o bem, sem olharem para quem...
Grande beijo,
Jackie