Nasci em 71, um ano depois da copa do mundo que, na época ficou nossa, 12 anos depois, não mais era nossa, roubaram-na. E nem os 90 milhões em ação impediram que ela virasse um monte de ouro derretido vendido a algum receptador de produtos roubados. Lembro-me de poucas coisas do regime militar, vim aprender mais sobre isso com o Elio Gaspari em seus livros (o cara é genial... Recomendo). Só me lembro como gente alguns anos depois da Copa e das memórias que trago, uma me marcou de forma indelével. Dentro de casa, meus pais falavam coisas do tipo "governo ladrão", "político safado", "militares assassinos" e, numa das vezes que ouvi isso, um dos adultos por perto atentou para o fato de que uma criança os ouvia e reiterou:
- Ei, isso não é coisa que se fale na rua, não, viu!
Demorei uns 15 anos para entender exatamente por que aquilo não era coisa que se falasse na rua.
Hoje, menos freqüente do que anos atrás, ainda ouço gente que diz que bom era no tempo dos militares. Não havia essa roubalheira, não. Claro, eles (os militares) roubavam sozinhos. Não havia essa baixaria da imprensa. Óbvio, eles (os milicos) fechavam jornais e prendiam jornalilstas que ousavam discordar da ordem geral "Brasil, Ame-o ou deixe-o". E quem não amasse era forçado a deixá-lo. Quisesse ou não. Encalacramo-nos em dívidas que consumiram as riquezas nacionais durante duas décadas e, ainda assim, saímos no mesmo pé que entramos. No zero a zero...
Ao pessoal que chegou de 80 para cá, saiba que Papai Noel, coelhinho da páscoa, duendes e gnomos (não vale se lembrar da Xuxa, ela não serve como referência para nada), militares e juízes presos eram algo que girava na mesma esfera mítica e cairia bem em seriados como o antigo "Além da Imaginação" (acho que ainda passa na TV por assinatura). Ainda caminhamos para uma país melhor, estamos no iniciozinho da conversa, mas o nível da prosa já melhorou bastante.
E isso, agora, é coisa que se deve falar na rua.
Em tempo: Na época do regime militar, roubava-se, fraudava-se, violava-se direitos humanos muito mais do que agora, mas quem ousasse levantar essa discussão virava estatística. Conquistamos o direito de falar o que pensamos, daí, se seremos ouvidos, estamos falando de outra conquista em andamento.
- Ei, isso não é coisa que se fale na rua, não, viu!
Demorei uns 15 anos para entender exatamente por que aquilo não era coisa que se falasse na rua.
Hoje, menos freqüente do que anos atrás, ainda ouço gente que diz que bom era no tempo dos militares. Não havia essa roubalheira, não. Claro, eles (os militares) roubavam sozinhos. Não havia essa baixaria da imprensa. Óbvio, eles (os milicos) fechavam jornais e prendiam jornalilstas que ousavam discordar da ordem geral "Brasil, Ame-o ou deixe-o". E quem não amasse era forçado a deixá-lo. Quisesse ou não. Encalacramo-nos em dívidas que consumiram as riquezas nacionais durante duas décadas e, ainda assim, saímos no mesmo pé que entramos. No zero a zero...
Ao pessoal que chegou de 80 para cá, saiba que Papai Noel, coelhinho da páscoa, duendes e gnomos (não vale se lembrar da Xuxa, ela não serve como referência para nada), militares e juízes presos eram algo que girava na mesma esfera mítica e cairia bem em seriados como o antigo "Além da Imaginação" (acho que ainda passa na TV por assinatura). Ainda caminhamos para uma país melhor, estamos no iniciozinho da conversa, mas o nível da prosa já melhorou bastante.
E isso, agora, é coisa que se deve falar na rua.
Em tempo: Na época do regime militar, roubava-se, fraudava-se, violava-se direitos humanos muito mais do que agora, mas quem ousasse levantar essa discussão virava estatística. Conquistamos o direito de falar o que pensamos, daí, se seremos ouvidos, estamos falando de outra conquista em andamento.
34 comentários:
Muito bom Marcelo, estamos mesmo falando a mesma língua.
Ouço sim muitos elogiam os militares pelo grande 'avanço' econômico que proporcionaram no período. Mas como assim???
Tem toda a razão, a diferença atual para o período do regime é que agora sabemos (um pouco mais) do que realmente acontece no país. Dos pontos positivos aos negativos, (quase) tudo nos é informado.
E sim, caminhamos muito de lá para cá. Um grande avanço que ainda exige outros ainda maiores, mas estamos a caminho...
Por isso admiro muito a minha profissão (sim, já considero minha profissão a área jurídica).
Valeu
All3X
Parabéns. Bom texto (nem li, mas gostei) Visite meu blog.
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ops! Que susto! É que foi essa a opção que votei na enquete. hehehehe!
Mas vamos ao que interessa. O Brasil "democrático" ( e aqui vai entre aspas AINDA) é muito recente. Estamos, na verdade, nos acostumando com isso, sem bem uma noção do que fazer, ainda, com essa liberdade.
A roubalheira sempre existiu, a violência sempre existiu, pedofilia, seqüestros, escravidão de trabalhadores rurais...no período militar, além de se vender a idéia de um país maravilhoso e em pleno crescimento ( o milagre econômico), não havia mídia para divulgar os podres do governo, por exemplo; quem o fazia era na clandestinidade e na base da coragem.
Hoje temos uma grande imprensa de acesso a todos via TV, mas sem grande profundidade, sem grande liberdade ( são comprometidos com interesses políticos diversos). Felizmente as mídias alternativas estão aí e hoje não é preciso ficar na clandestinidade, embora ainda existam muitas ações típicas do AI-5 contra muitos veículos de comunicação...a lei Azeredo é um belo exemplo disso, sem falar na TV Digital.
Ufa! Chega por hoje! rssss Parabéns, bom texto! hehehehhe! Mas é verdade, blog esperto, com bons textos mesmo! abs!
Oi, Marcelo!
O Brasil tem 20 poucos anos de democracia. Ainda é tão recente, que temos que "crescer" em tanta coisa, mas estamos engatinhando, tenho certeza. Temos verdadeiramente hoje liberdade de expressão, principalmente na internet. Hoje em dia, quem não está contente com a opinião de um jornal ou revista, pode escolher outra e outra, e até ir para web. Isso para mim que é a democracia da imformação: o acesso está mais fácil, até à jornais e há livros.
Aqui em BH, há várias bibliotecas no Centro. Ler livros, revistas e jornais não é mais artigo de luxo. Me dá gosto de ir na hora do almoço e ver as pessoas fazendo fila para ler alguma coisa na biblioteca. Onde trabalho tem uma do SESC.
Daí as pessoas, de forma bem discreta comentam sobre política, assuntos da semana, esporte, enfim. Quando no governo militar as pessoas podiam debater na rua ou numa biblioteca?
Excelente seu texto! Chamei meu pai pra ler. Ele adora falar "naqueles tempos". No final ele concordou: a diferença de ontem e hoje é que tudo é noticiado.
É meu amigo, estamos engatinhando!
Abraço,
=]
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http://cafecomnoticias.blogspot.com
Verdade. Muitos brasileiros tem memória curta e língua grande. Ouvi, certa vez, um professor afirmar que seria preciso um outro regime militar para que o país voltasse a produzir música boa.
Dá vontade de extraditar uma criatura que profere uma blasfêmia dessas! Mas, para a sorte dele, este é um país livre...
Nasci em 86 então só sei histórias mesmo do Regime Militar. Meu pai é um desses que acredita que essa foi uma época melhor! A liberdade de expressão é muito melhor, não tenho dúvidas. O que as pessoas ainda não sabem é usar essa liberdade e saem por aí produzindo e consumindo porcarias. Cada um escolhe o que quer ler ou asistir. Ponto final!
Abs
http://damasdevermelho.blogspot.com
Amei o texto, o blogger, o modo como vc desenvolveu o assunto, tudo.
O progresso da democracia em nosso país deve ser sempre exaltado, principalmente tendo em vista tudo o que fomos obrigados a passar no passado e as cicatrizes que muitos carregarão por toda a vida. mas ainda há muito a ser feito e o mais importante é que estejamos sempre refletindo e discutindo sobre o assunto.
parabéns!
visite o meu blog tbm:
www.achomuitacoisa.blogspot.com
bjs
"12 anos depois, não mais era nossa, roubaram-na"
Ainda sim era nossa, o que não era nosso era o Troféu, mas a Copa, isso graças a Deus ninguém pode tirar da nossa nação.
De resto o blog está maneiro, continue assim, abraço.
A imprensa faz diferença (que lindo, até rimou).
Realmente, o que não é veiculado não existe.
Apesar dos pesares - nasci no exato ano em que a ditadura militar acabou no Brasil, não posso dizer na prática - tenho certeza que avançamos muito em liberdade de expressão, diálogo político, democracia mesmo.
Ainda falta muito, especialmente porque o resquício do pensamento da época ditatorial ainda está muito arraigado na cultura brasileira - até mesmo para quem não a viveu, digamos que é um mal congênito.
Mas se pegarmos o contexto político da América Latina atualmente, ah, estamos bem.
Abraços!
P.S.: Obrigado pela visita em meu blog, e sim concordo com o seu comentário lá. Vou colocar o seu blog entre meus preferidos para passar aqui sempre, gostei dos seus também. Abraço.
Ah sim, ainda hoje escuto meu pai falando sobre o tal regime militar... Mas que bom que hoje há direito de falar o que pensamos, embora muitos continuem na sua bola de cristal.
Sou de 89, e acho que isso não importa tanto. Sempre consegui manter meus pés nos chão.
O tempo do esconde-esconde acabou, agora é salve todos.
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http://www.l-a-b-i-r-i-n-t-o.blogspot.com
Eu apoio o Governo Militar.
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Sem mais.
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Grande abraço. Fique com Deus, na Paz.
______________
http://horateologica.blogspot.com/
Sem sombra de dúvidas, avançamos demais em relação ao que vivemos no regime militar. A liberdade de expressão que temos hoje exagera em alguns pontos, porém, não consigo cogitar vivermos sem ela.
Eu nasci em 86, por tanto não conheço o regime militar na prática. Eu tenho um tio que fala que o Brasil cresceu economicamente na época dos militares. E quando falo de corrupção, ele sempre diz que tudo no Brasil é comprado desde a libertação dos escravos, À renúncia do Jango e as diretas já.
Ele me lembra que na Argentina, para se instalar a democracia, teve uma guerra entre civís e militares e muita gente morreu nesse confronto. Já no Brasil não teve uma bala para que os militares saissem do poder, pois afinal receberam uma boa grana para deixar ser instalada a tão sonhada democracia brasileira.
http://hdebarbamalfeita.blogspot.com/
Pois é, Marcelo!
Nasci exatamente 10 anos depois de vc e ainda assim na minha família muito falava-se da época da ditadura militar. Meu pai, principalmente, foi uma pessoa marcada por esse regime. Contava-nos histórias. Explicava-nos canções. Por um longo tempo lá em casa quase toda forma de arte esteve ligado a esse período obscuro da história brasileira.
Caro Lucannus,
Apesar de você não argumentar o porquê, considero válida sua escolha. Aliás, coisa que em um regime como o militar, se os desagradasse, seria passível de prisão e morte.
Não se sinta sozinho também e saiba que Hitler, Mussolini, Stalin e outros também tiveram pessoas que os apoiava e os defendiam.
Um grande abraço
Marcelo
fui numa exposição esses dias de história de jornalismo.
Os lusíadas no lugar de materias censuradas e coisa e tal.
tudo tem uma lado bom e um lado ruim
mas no caso dos militares o lado bom, não supera o ruim
Sou um ano mais novo que você e tenho também praticamente as mesma memórias rsrsrrsrsrs.
Um abraço e ótimo post!
www.geracaoweb.wordpress.com
Acho que você está certo quando diz que o nível da prosa já melhorou bastante e que conquistamos o direito de falar o que pensamos. Mas, infelizmente, também acerta quando afirma que se seremos ouvidos, estamos falando de outra conquista em andamento. Eu sempre me pergunto se falar ainda adianta. Porque quem deveria nos ouvir se mostra impassível, indiferente aos nossos gritos e resmungos. Até quando?
Muito legal como vc desenvolveu seu texto....ficou bem interessante.
Mas gostei mesmo do título....de primeira já começei rindo.
hehehehehe
Bjos
Florzinha
Brilhante, Marcelo! Vc colocou a questão de maneira simples e didática (coisa de bom professor, com certeza) para que essa galerinha de depois dos 80, como vc disse (sou de 73) entenda o que era crescer nessa época e rechace o argumento de que naquele tempo é que era bom. Era bom calado ou fora! ou pra vala!
Beijos pra vc!
tudo tem seu lado bom na vida
mais ta legal hehe
blog massa
Mas tava tão bonitinho, vc não perdeu o jeito não (com o francês)!
Então, vamos combinar. Traga a família, vamos ao Mercadão (que é pertinho) comer sanduíche de mortadela e depois partimos para o Museu. Tá feito o convite, viu?
Beijo, amigão!
como sempre, belo texto...
eu nasci em 88 e ouvi muitas histórias dos militares. meu pai serviu no exercito nesses anos(70) e tem coisas que nem ele gosta de lembrar...
abraço
Não vou cometer a insanidade de dizer que um regime de excessão é bom para um país, mas querer comparar com os dias de hoje também é viajar na maionese, é certo que os milicos batiam pesado e o povo não sabia de nada ou quase nada, mas hoje em dia o povo também sabe apenas o que interessa e mantém a paz relativa instalada, mas uma coisa eu digo, no tempo dos milicos bandido não tinha sobrenome, não era famoso, e não passava dos 25 anos. A tal liberdade vigiada que a imprensa tinha era apenas para essa mesma imprensa que hoje é paga pelo dinheiro público ara falar bem dos mandatários da vez, ou seja a sujeira continua a mesma o que mudou foram as moscas.
São poucos os blogs que se pode aproveitar alguma coisa de seu conteúdo. O seu é um dos que se pode, e muito. Parabéns.
O meu não é. hehe
Abraços.
Bruno Silva
http://ladobdocassete.blogspot.com
Pô, to tão feliz que alguém entendeu a do Godot! hahaha Eu preciso fazer quadrinho menos cult.
Aliás, vc já viu um curta chamado "godot" que mostra o que o godot estava fazendo e pq nao chegava? Eu to tentando buscar informações desse curta mas não acho. É muito bom. hehe
Abraços.
Bruno Silva
http://ladobdocassete.blogspot.com
Comecei a ler A Ditadura envergonhada do Elio Gaspari...vc tem razão, é genial sim...Interessante como o Geisel ajudou a montar depois colocou fogo no circo...
Abraço!
Você é frofessor né ? nossa você tem opniõs otimas , abre os olhos de quem pensa que ja foi tudo melhor , acho que nunca foi , há uma semna fiz um redação na escola falando sobre isso o titulo era "Vende-se o mundo , alguem quer comprar ?". Fla da forma que seria dificil um vendedor , consequir vender um produto cujo as qualidades estão se esgotando r(recursos naturais), que é super populoso , vocu ate postar ele no meu blog , sinceramente se você é professor , eu queria ter um professor que nem você , que tem ideias exelentes, que bate com as minhas, há você é de Gêmeos deve ser isso né ? hehe
Como eu disse no outro post, acho que falta MUITO para atingirmos a maturidade política e o nível de civilidade de um país moralmente adulto, mas estamos caminhando. Por mais que os grupos de comunicação tenham seus interesses particulares (hoje eu tô só recapitulando teus posts antigos, hein?), a liberdade de imprensa é um bem inestimável. Como você bem disse: tá bom, tá bom, tá bom... bom, bom, bom não tá, mas tá bom, tá bom.
Ah! E eu esqueci de dizer: a Sala de Justiça está em novo endereço. Somos vizinhos agora, mudei pro Blogspot: http://asaladejustica.blogspot.com
Olá,
O post é interessante, mas acho otimista demais. Antes estava indizível, hoje está péssimo. Mas ainda falta muito para começarmos qualquer tipo de discussão verdadeiramente democrática (entendendo aqui democracia como o governo das pessoas e para as pessoas). Existem problemas solenemente ignorados pela mídia. Ou alguém já ouviu, num grande veículo de comunicação, algum tipo de análise séria do tráfico de drogas e da violência? Do aborto? Da política tributária? Isso de que "a discussão é democrática mas muito superficial", sempre foi assim, mesmo nos Estados Unidos, modelo da democracia moderna: o dinheiro cria suas pautas e destrói as alheias. A mídia alternativa realmente é um oásis nisso tudo. Para quem gosta do assunto, recomendo um livro que li que realmente mexeu com minha visão: Necessary Ilusions: Tough Control in Democratic Societies, do Noam Chomsky. Existe uma tradução que chama Controle de Mídia. Em inglês dá para achar em pdf no torrentz. O cara é bom, analisa a cobertura americana de assuntos cabulosos, como a ação na Nicarágua e no Oriente Médio. Enfim, parabéns pelo blog.
Abraço!
Quem não sabe governar sua própria vida prefere que outros o façam....
bjs
Muito bom, Marcelo. Serei visita contínua do teu blog.
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